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Documento produzido na conferência indígena será apresentado a governos Latino Americanos
Documento produzido na conferência indígena será apresentado a governos Latino Americanos
27/09/2004 18:22:01
por Coordenadoria de Comunicação Social
Índia Umutina conta experiência de cursar ensino superior
Índia Umutina conta experiência de cursar ensino superior

O resultado de três dias de trabalhos, discussões e propostas realizadas durante a I Conferência Internacional sobre o Ensino Superior Indígena se constituirá em um documento que será encaminhado aos secretários e ministros de educação dos países da América Latina. A informação é do representante da Unesco/ Guatemala, Otto Rivera durante o ultimo sábado (25.09) no encerramento do evento, realizado pela Universidade do Estado de Mato Grosso, Unemat no Campus de Barra do Bugres.

O documento organizado por uma equipe técnica composta por representações do Brasil, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Guatemala e México indicará as solicitações e propostas apontadas pelos participantes da conferência, no sentido de subsidiar a formulação de políticas publicas para o ensino superior indígena.

As propostas foram elaboradas durante discussões em 11 grupos de trabalhos compostos por representantes de 38 etnias, universidades, movimentos indígenas e indigenistas, organizações governamentais e não governamentais.

Entre os indicativos, a cobrança dos povos indígenas por ensino de qualidade em todos os níveis e a garantia de formação continuada pautada em permanente diálogo com a política indígena e com base nas necessidades das comunidades.

Formação

Para a índia Pareci, Francisca Novantino, representante indígena no Conselho Nacional de Educação, a participação efetiva dos povos em todo o processo formativo, desde a elaboração dos cursos, execução e avaliação, é imprescindível e precisa ser respaldada nas políticas de educação para indígenas. Ela ressalta que o sentido do ensino profissional indígena é baseado no fortalecimento étnico e na subsistência econômica, política e cultural dos povos.

Alejandro Herrera Aguayo da Universidad de la Frontera no Chile aponta a necessidade de que as discussões em torno de políticas para educação indígena ultrapassem as fronteiras dos países. Segundo ele, há um processo em nível de continente de integração das experiências em formação indígena e a conferência internacional vem responder a esse propósito.

“ Esse momento é importante, pois aproxima e media as relações entre os países possibilitando que se pense as políticas para educação superior com base nas realidades dos povos indígena de cada nação’, avalia Herrera.

Durante participação na conferência Alejandro apresentou as experiências vivenciadas em seu país em educação indígena.

O Chile tem 700 mil indígenas e três universidades oferecendo cursos de licenciaturas voltados para formação inter cultural e bilíngüe de professores indígenas, sendo duas delas particulares.

Em nível básico o ministério de educação desenvolve um programa especial voltadas para as escolas indígenas com a participação das comunidades. Estas são mantidas pelos municípios, sendo a grade curricular proposta pelo ministério baseada na língua, cultura e tradição dos povos indígenas além de conteúdos regulares aplicados em todo sistema de ensino do país.

Experiências brasileiras

Entre as propostas de ensino superior indígenas desenvolvidas e em fase de implantação em cerca de 11 estados brasileiros foi apresentado durante a conferência a

experiência do Mato Grosso do Sul. O estado desenvolve por meio da Universidade Estadual (UEMS) dois cursos denominados de normal superior indígena atendendo em turmas específicas as etnias terena e guarani, tendo adotado no ano passado um sistema de cotas que contemplam 35 indígenas em cursos distribuídos em diversas áreas do conhecimento.

Segundo Maria José Cordeiro, pró-reitora de graduação da UEMS, a Instituição está discutindo um projeto de ensino superior indígena que pretende ser concretizado dentro de um processo de construção coletiva com as comunidades indígenas.

“Eu daqui estou levando uma série de sugestões de aprimoramento e de idéias do que precisamos criar para dar suporte ao que já temos e de como fazer modificações inclusive para o que está sendo construído”, afirma a Cordeiro.

No Amapá projetos em formação superior indígena começam a ser estruturados. Com 6 mil índios em seu território o estado não tem experiência em ensino superior indígena. Um Grupo de Trabalho (GT) instituído pela Universidade Federal do Amapá, Unifap fez um levantamento nas aldeias, das demandas em ensino superior e das áreas de formação pleiteadas pelos indígenas. O levantamento indicou uma media de 260 indígenas aptos ao ensino superior que solicitam entre as formações, curso regular intercultural.

Para a presidente do GT, Sandra Monteiro as experiências colhidas na conferência irão ajudar a nortear as ações da universidade. Ela referenda projetos como o terceiro grau indígena desenvolvido no Estado de Mato Grosso pela Unemat .

“Projetos como os desenvolvidos pela Unemat irá subsidiar a construção da proposta pedagógica do curso que vamos implantar em nossa universidade” exemplifica Monteiro.

Encerramento

Após as palestras e apresentações das propostas elaboradas nos grupos de trabalho, os cerca de 400 participantes da conferência ouviram depoimentos de acadêmicos do projeto 3º grau indígena. Eles elencaram as vivências junto a suas comunidades enquanto professores e ressaltaram a necessidade de acesso ao ensino superior.

Entre os acadêmicas da Unemat, a índia Umutina, Edna Monzilar, falou da emoção de poder retornar a sua comunidade como professora. Ela atuava numa comunidade rural (não-índia) no município de Barra do Bugres, antes de passar no vestibular para o projeto 3º Grau Indígena juntamente com outros 9 acadêmicos da etnia Umutina.

“Quando comecei a trabalhar, lecionava nas escolas rurais do município. Minha vontade era trabalhar para meu povo. Conhecer a história do meu povo. A gente estava fora da nossa comunidade buscando autonomia e para dizermos que éramos capazes. Quando entramos no 3º grau nós voltamos para aldeia”, relata Monzilar explicando os desafios que sua comunidade enfrenta por não falar mais a língua materna e de como a Universidade está contribuindo para o reconhecimento da cultura e história do seu povo.

“Os estudos e a pesquisa tem ajudado muito a gente, principalmente em relação a nossa cultura. Meu povo Umutina é discriminado por não ter a língua materna. Alguns de nossos parentes falavam que nós não éramos mais índios, só que eles não sabem todo o processo que fez com que a gente perdesse nossa língua” desabafa ela, acrescendo:

“Com o 3º Grau a gente viu que não mudamos nada. Que somos índios do mesmo jeito. A medida que aprendemos, vamos buscando tudo aquilo que praticamente estava perdido. Estamos conhecendo e dando valor a nossa história, e fazendo com que nossos alunos também conheçam” finaliza.

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